10 setembro 2008

VIAGEM AO TUA

-----Nesta viagem fomos até ao Tua, região situada numa confluência de caminhos que conduzem ao coração do Douro Vinhateiro (Património da Humanidade -UNESCO – 2001), e seguem para a Terra Quente Transmontana.

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-----Apesar de conhecer bem estas terras, existia ainda um passeio que há muito andava para fazer, mas que até presente data não tinha sido possível, o passeio de comboio pela linha do Tua, numa extensão de 54km, entre a Foz do Tua e Mirandela, com a duração de 2h00.
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-----Infelizmente a via encontra-se temporariamente desactivada, devido aos 4 descarrilamentos que sucederam no último ano e meio e mais precisamente devido ao último acidente fatídico, que ocorreu no dia 22 de Agosto, próximo da localidade de Brunheda, em Carrazeda de Ansiães, do qual resultou a morte de uma senhora de 47 anos e 25 pessoas feridas.
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-----A linha do Tua foi inaugurada em 1887, num local magnifico, que proporciona uma das viagens mais fascinantes do caminho-de-ferro português, de via estreita, pelo que faço votos que não desapareça (como muitas outras linhas que foram desactivadas na década de 1990, fazendo desta linha o único troço ferroviário do nordeste transmontano) devido aos infelizes acidentes ou à construção da Barragem do Sabor, já adjudicada à EDP, que se for concretizada as cotas de água projectadas irão submergir parte da linha, deixando-a isolada da restante rede nacional ferroviária e tornando-a inviável.
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-----Pelas 07h00, eu, o Jorge, o Marito e o Pedro Silva, saímos de Vila Nova de Gaia, como destino ao Tua, terra agreste, granítica, seca e com grande desníveis do terreno (muitos montes), sendo por isso previsível algumas dificuldades, mesmo sem a passagem pela a linha do comboio, que fazia parte dos meus planos.
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-----As 10h30, dê-mos início ao passeio junto da estação de comboios do Tua, tendo o Jorge efectuado uma ligeira experiência pela linha do comboio com a sua Orbea, de suspensão total, para chegarem a conclusão que não era opção. Lá começamos a pedalar, mas uns metros à frente fizemos uma paragem para comer figos.
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-----O aquecimento foi feito em asfalto, sempre a subir, durante cerca de 12km, até à freguesia de Parambos.
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-----Pelo meio passamos na freguesia de Fiolhal, onde encontramos um casal, que seguia num tractor carregado de garrafões de vinho, tendo o Marito aproveitado para os questionar sobre o trajecto em que seguimos e acabou a pedir uma pinga, que foi prontamente oferecida pelo Sr. Luís e acabamos deste modo na adega a provar moscatel e a confraternizar.
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------O caminho continuou a subir por uma calçada, tipo romana, com muita pedra e com vista deslumbrante para o Tua, que acabou num monte de vinhas. Neste local fizemos uma breve paragem, para descansar e saborear as uvas.




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-----Este trilho continuou até a localidade de Tralhariz, tendo depois seguido por asfalto até a próxima localidade, Castanheiro.
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------Assim, que vi uma alternativa ao asfalto, nem pensei duas vezes e seguimos por um estradão em terra até Parambos, aldeia mais verde de Portugal....
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-----Fizemos uma pequena paragem para matar a sede no tasco de uma ex-namorada do Pedro Silva, que com a vergonha,nem quis entrar.
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-----Daqui em diante surgiram os problemas de quem vai a descoberta, ou seja entramos em trilhos que não levavam a lado nenhum e lá tivemos de voltar para trás, mas com campos de árvores de fruto, que deu para enganar o estômago (maça). Foi algures por aqui que voltei a ter um visão desagradável de um cobra a fugir a minha frente (já começa a ser inevitável).
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-----Mais uma oportunidade para o Pedro, continuar a resmungar, ou porque era sempre a subir, porque era asfalto, porque tinha muita pedra, porque não sei trabalhar com o gps, etc, etc, etc.
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-----Assim, após quatro tentativas para descobrir o caminho e ter-mos avançado a vedação de um campo, lá encontramos caminho para a próxima localidade denominada de Misquel. Aqui voltamos a conversar com os moradores, que nos indicaram um trilho que seguia até Carrazeda de Ansiães, mas como o pessoal estava com fome optamos por seguir pela estrada nacional.
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-----Cerca das 14h00, depois de questionar 3 a 4 moradores, acerca de uma tasca para comer um petisco, acabamos por seguir a indicação de um bombeiro e fomos parar a um restaurante que apenas servia frango assado. Os meus companheiros famintos já não saíram daquele local, pelo que decidi abandona-los, para não comer de faca e garfo e fui a procura de um tasco na praça central, onde comi uma alheira, uma fevra, um prego no pão, acompanhado de 2 colas e um café, pela singela quantia de 4,50€.
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-----Voltei ao convívio com "cromos", que ainda não tinham acabado de comer, nem compreenderam a minha atitude....
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-----De novo a pedalar, seguimos em direcção à localidade de Samorinha, onde entramos num estradão, que uns metros mais à frente estava bloqueado com árvores caídas e vegetação alta, que impedia seguir viagem por aquele trilho. A solução foi improvisar por meio dos campos até voltar novamente ao trilho. Maia uma oportunidade para o Pedro reclamar a intensa vegetação no trilho...Uma descida irregular e com vegetação é necessário cuidado e/ou alguma experiência na escolha do local para passar com as rodas...cuidado que o Jorge, voltou a não ter e deu mais um malho, com aparato, que deixou o Marito que vinha atrás, muito preocupado.
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-----A queda deu-se por ter batido com a roda da frente numa pedra escondida na vegetação, tendo de imediato arrebentado o pneu, originando assim a projecção do manco do seu condutor, que caiu de queixos.
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-----Repostos do susto inicial, reparamos a avaria da bike (colocar uma câmara e tapar o furo) e seguimos até a localidade do Pinhal Novo, com uma passagem por em mato, em estradão e a descer para variar. Neste local, aproveitamos para repor líquidos e o Marito acabou por fazer de enfermeiro do Gigantones e fez-lhe o curativo com muita ternura.
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-----Fazia dos meus planos iniciais ir até a estação de comboios da Brunheda e regressar ao local de partida, mas por esta altura já dava para ver que não íamos ter tempo.
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-----Finalmente, vimos o rio Tua no fundo do vale, por isso foi sempre a descer até linha do comboio, mesmo sabendo que o caminho não era por ali. E finalmente uma descida repleta de emoções, que terminou com uma queda do Pedro Silva e um mortal para a frente, sem consequências físicas.

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-----Eles bem pensavam que pensavam que se tinham visto livres da minha ideia de andar na linha do comboio, mas depois de aqui chegados não havia outra solução a não ser subir novamente o monte todo. E lá começaram as reclamações....NÃO É EXEQUÍVEL.
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-----A faltar cerca de 18km para chegar ao Tua foi hora de apreciar uma das empresas mais arriscadas e arrojadas das engenharia portuguesa da época e a paisagem que nos rodeava, inóspita e agreste e as gargantas escavadas pelo rio, para desembocar no leito principal e prosseguir a caminhada até ao mar.
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-----Foi-me deliciando com a paisagem, tendo absorver o máximo de pormenores, sem esquecer as fotos, para mais tarde recordar, mas sempre em cima da bicla, alternando entre os carris e as bermas, consoante a quantidade de pedras. Em relação aos meus companheiros de viagem, apenas o Pedro, não fez um pequeno esforço para seguir em viagem em cima da maquina e foi o caminho todo aborrecido.
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-----Dois quilómetros depois chegamos a estação de São Lourenço, que apesar de aparentar ter sofrido obras de recuperação encontra-se fechada. Por esta altura nenhum de nos tinha líquidos nos bidões e a sede há muito que apertava, por isso bem desejava que na estação tivesse uma torneira com água, mas isso seria uma utopia?!...
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-----Por esta altura já dava para ver que a este ritmo na melhor das hipóteses só íamos chegar a estação do Tua cerca das 21h00. Apesar deste cenário negro, dado que apenas eu levava luzes e a linha tem alguns perigos, para quem segue a pé ou de bicicleta. Apesar disso e já que não havia água para beber, ao menos para refrescar, por isso nada melhor que um banhinho, mesmo ao lado do local onde já existiu uma ponte, mas por pouco tempo, porque a primeira enxurrada deixou-lhe apenas os vestígios e agora existe uma espécie de teleférico, mas que me pareceu com pouca utilização. Enquanto isto o Jorge voltava a trocar de câmara.
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-----Volvidos alguns minutos regressamos novamente a mais uns quilómetros de coça nas pedras. Felizmente a linha encontra-se em obras de recuperação e em consequência disso na berma de dentro da linha colocaram cimento para tapar uns cabos, que ali foram enterrados, que rapidamente aproveitamos para pedalar sem pedras, durante quase mil metros, até que nos apercebemos que o cimento estava fresco, ficando as marcas das rodas das bikes no mesmo.
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-----Uns metros mais a frente e a faltar 10km para o fim da linha, encontramos os trabalhadores, que se preparavam para terminar o dia de serviço (19h10) e os meus colegas que já vinham de fartinhos daquele esforço não hesitaram e foram-lhes pedir boleia, mesmo que para isso tivessem de mentir ao responsável, que ao ver-nos perguntou logo se tínhamos andado em cima do cimento.
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-----É claro que tiveram de mentir para não ficarem sem boleia (uma mentira inocente, porque apesar das marcas no cimento não estragamos nada).
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-----Deste modo, o passeio que ia terminar em sacrifício acabou por ter sido feito de forma agradável na locomotora dos trabalhadores. Podemos desfrutar da paisagem de forma tranquila e numa posição privilegiada para o rio.
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-----Há tantos anos que pretendia fazer a viagem de comboio do Tua a Mirandela e sem querer acabei por fazer 10km numa automotora diferente e de forma inesperada e única.
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-----Chegamos ao Tua pelas 19h40.
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-----Segui-se um "banho" no pátio do restaurante "Calça Curta", onde eu e o Marito já tínhamos estado há cerca de 7 anos atrás juntamente com outros colegas de trabalho, numa viagem de comboio muito animada.
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-----O nosso jantar foi bem regadinho de cervejas, para matar a sede que passamos nos quilómetros finais.
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-----Pelas 00h30 regressamos a casa, de mais um dia inteiro preenchido na companhia de amigos, num local único, que tornam esta viagem num momento capaz de ficar gravado bem fundo na memória.
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-----Faço votos que o inquérito sobre os descarrilamentos seja breve, com rigor e público, de modo a evitar situações semelhantes no futuro e que a linha reabra, porque em 120 anos de existência só agora é que apareceram os acidentes, numa via que me parece segura, desde que vigiada (manutenção) com regularidade e com algumas obras na encosta para evitar a queda de pedras, especialmente à passagem das composições.
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-----Pois, além de ser um excelente polo de atracção turistica, porque são aos milhares os que ali se deslocam com o propósito de visitar o vale e viajar no comboio e estou certo que seriam muitos mais se a linha do Douro chegasse à Espanha e ainda muitos outros passageiros, moradores da região, que não dispõem de outro meio de transporte para além do comboio para as suas deslocações diárias.
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O Rio Tua "nasce" 2 Km acima da cidade de Mirandela, na junção dos rios Rabaçal e Tuela.
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Dali segue até à Foz do Tua, no rio Douro, numa extensão aproximada de 57 Km.
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